domingo, 28 de junho de 2009

Como o Meia Hora consegue se superar

É absolutamente incrível a falta de sensibilidade de um jornal como o Meia Hora. Tudo bem que é popularesco, tudo bem que o público que compra lê com gosto. Mas fico surpresa como a publicação consegue se superar em termos de mal gosto editorial quando o assunto é morte. Todo o dia podemos ver estampado na capa que um "vagabundo tomou pipoco e ficou mais furado que tampa de saleiro" (juro que já li isso lá). Mas é impressionante como, a cada dia, os mancheteiros conseguem se "aprimorar" ainda mais nos títulos e legendas bizarros e insensíveis.

Confesso que acho as sacadas geniais, trocadilhos bons. Mas algo para uma piada entre amigos, no máximo. Não para ficar estampada na capa de algo que, supostamente, deveria ser formador de opinião. E por mais "esperta" (me falta a palavra) que seja a sacana, não deixa de ser de péééssimo gosto. Quando Clodovil morreu, "Virou purpurina", numa alusão à piada que se faz dizendo que homossexuais não morrem.



Agora, com o falecimento de Michael Jackson, o adeus do jornal fez sua chamada se referindo à mudança da cor da pele do ídolo pop ao longo das últimas duas décadas: "Nasceu preto, ficou branco, vai virar cinzas", estava escrito.



Só de pensar, sinto mais arrepios do que se estivesse em um "Thriller" de verdade...

gritos de gol

Há muito tempo eu não ouvia alguém gritar GOL em um jogo da seleção brasileira. Hoje, o triunfo de Lúcio sobre a zaga americana deu gosto não apenas de ver, mas também de ouvir.



Sempre achei que nos envolvemos com a seleção apenas de quatro em quatro anos. Só a Copa do Mundo mobiliza, pensava. Pensava não, penso. Mas hoje, confesso, tive que abrir uma excessão.

Meu pai tem uma mania que me irrita profundamente. Cortar o áudio da televisão quando ele cisma. Neste domingo tive que admitir que a ideia dele, que a princípio achei ridícula (mais uma vez), foi providencial. Durante a comemoração do capitão canarinho, papai apertou o mute no controle, e pude escutar em alto e bom som a vibração das pessoas na rua. Pra mim, a única ocasião em que isso acontecia, sem contar o Mundial, era um goleada em cima da Argentina.

Se em campo o Brasil fez bonito, fora dele a torcida fez sua parte. Mesmo que tímida, mesmo que à distância. Espero que seja um bom ensaio para muitas comemorações, à mesma distância, quase na mesma data, em 2010.

domingo, 21 de junho de 2009

mudança para não mudar


A semana foi bastante engraçadinha. Vários amiguinhos fizeram a mesma piadinha suuuper legal: E agora, tá fazendo faculdade pra quê?

Se já debochavam do curso de jornalismo, falando que eu fazia parte de um bando de desocupados que não faz nada além de ler e escrever (como se fosse pouco², como se fosse só), agora ainda zoam que nem preciso perder tempo nem dinheiro para ir a aula.

Se qualquer um pode ser contratado por um jornal, por que investir em alguém que, por ser "diplomado" será mais caro? Discordo em parte dos meus amiguinhos. Por mais "caro" (como se salário de jornalista fosse bom) que seja um profissional com terceiro grau, realmente acredito que as empresas continuarão a valorizar o pedaço de papel que recebemos ao final de quatro anos.

O presidente das organizações globo mandou uma mensagens aos seus funcionários na terça-feira, se não me engano. A empresa continuará a buscar nas instituições de ensino superior os talentos que procura para o seu quadro. Enquanto alguns colegas diziam que era papinho de chefe, demagogia, eu acreditei (muito inocente, será?).

Sinceramente, não acredito que o mercado vá mudar tanto. Não agora. Os freelas já estão aí aos montes e mais montes. Os salários já são mínimos (se bem que tudo sempre pode piorar). Será que temos (futuros profissionais) tanto assim a perder?

Os blogs já estão aí, aqui, dominando tudo e mais um pouco. Qualquer um pode escrever, ter espaço e repercutir. Além disso, bom escritor não é formado por escola nenhuma. Ela pode lapidar, ensinar técnicas, mas não faz quem nasce pronto, ou quase, para ser lido, visto, ouvido.

Porém (ah, porém!), convenhamos que um blog do Zé das Couves não é um jornal com décadas de história, um canal de tv com mais de 60 milhões de expectadores. Que assinar como João do Açougue não é o mesmo que ter o respaldo de um veículo de porte. Será que qualquer um entrará de fato em um espaço tão seleto, tão restrito, tão competitivo? Será que os donos abrirão suas portas para todo mundo que bater? Não, não creio. Mas alerto: não podemos deixar de tomar cuidado. Sempre terá quem force a entrada, e quem faça vista grossa a quem não foi convidado.

Desvalorização do profissional? Em teoria, sim. Na prática? Vamos esperar (e quem sabe pagar) para ver.

fantasma escritor

Quando eu tinha tipo uns 10 anos, adorava assistir a uma série chamada fantasma escritor, no discovery kids. Ghost writer, em inglês, idioma original do programa.

Na minha inocência, me imaginava ali entre as personagens, desvendando mistérios com a ajuda do "amigo" fantasioso, hábil com as palavras e inteligentíssimo, apesar de invisível. Para mim, o ghost writer era isso e ponto. Nasci, vivia e morria ao toque de um botão no controle remoto.



Há algum tempo, li um livro de Clarisse que me deu um "aloooou". Não me lembro quem era a cara que ia para o jornal, todos as semanas, como autora dos textos da minha preferida. Fiquei imaginando como seria ver todas as semanas as pessoas comentando algo que você fez, mas que alguém leva o mérito (ou mesmo o demérito) por isso.

Há ainda menos tempo, assisti a um trailler que me mostrava bem essa cara. Acho que o filme ainda nem entrou em cartaz, na verdade. É com Giovana Antonelli e Caco Ciocler, mas não me recordo do nome. O rapaz escreve livros e mais livros que são assinados por personlidades. Ele não liga de ficar por detrás dos panos, até que sua mulher, envolvida pelo "charme" do pseudoescritor faz pouco caso da sua carreira. A cara de nada que ele faz é ótima, até explodir e pôr pra fora seu potencial/currículo/raiva/ciume.....

Dia desses, comecei eu, modestamente, a fazer parte do ramo de fastasmas escritores. Na empresa em que trabalho, comentaristas esportivos tem blogs. Dentre os mais de 15 colaboradores, um alega não ter tempo para sentar na cadeira e escrever. Mesmo com erros, mesmo sem precisar usar norma culta. Aí vem Lisa. O chefe explica o que é preciso fazer, e ela transforma uma mensagem cifrada de uma linha em um texto de 5 parágrafos, manda de volta para aprovação do "dono", e publica. Isso vira uma rotina. Quando não há mensagens cifradas, ela sugere temas a serem comentados, liga para procurar alguma frase que seja para servir de base para a publicação.

Depois, Lisa modera os comentários. Apaga os que têm palavrões, aceita todos os outros que são feitos, mesmo que com críticas ásperas. Aí vem a dúvida: para quem são as críticas??? Os leitores, pobres, acham que estão falando para o nome que fica no alto, do lado da foto. Mal sabem eles que quem assina não têm ideia do retorno das "suas" postagens.

Neste domingo, João Ubaldo Ribeiro foi simplesmente 10. Li cada linha do globo feliz da vida de alguém externar o que é feito com tanta frequência, mas que poucos se ligam ou dão atenção. Lula agora será colunista. Mas quem se ilude que nosso viajadíssimo governante irá escrever uma única linha? Quem se ilude que ele irá sequer ler o que escrevem em seu nome?



Para que pensar nisso? Hoje em dia há quem escreva por nós, pense por nós... Se importar? Pra quê?